30/07/2009

O CANTO GRANDE


Meu primeiro dia de aula na Escola Municipal Mista São José do Cajari foi inesquecível.

A escola, verdadeiramente mista em número, gênero e grau, possuía, no lugar das carteiras, duas grandes mesas retangulares, compridas, com bancos corridos nas laterais. Tempo das canetas de penas metálicas, tinteiros e mata-borrões e cadernos de papel almaço feitos em casa.

Bicho do mato que só eu mesmo, sentei-me na extremidade de um dos bancos num canto da mesa, junto à parede para ficar sozinho e botei a boca no mundo quando alguém veio sentar-se ao meu lado. Dona Adélia, professora leiga de saudosa memória, quis saber a razão do berreiro, e eu, entre soluços, falei que queria um “canto grande” só para mim. Foi o bastante para eu ganhar meu primeiro apelido, causador de outros tantos dissabores na pequena escola plantada às margens do meu inesquecível Cajari.

Hoje, ficaria feliz se alguém me chamasse de Canto Grande, aquele que canta com altivez, que possui um canto maior. Quem sabe não está aí a razão do título do meu primeiro livro, o Verde Canto e da trilogia amazônica Canto Caboclo? O certo é que continuo querendo um “canto grande”, nos dois sentidos, se é que me entendem.

2 comentários:

  1. Não lamurie mais não grande homem,voce tem um "canto grande" no coração de todos os que lhe admiram e reconhecem o seu talento e que sei, não são poucos. Beijos poeta.

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  2. Olha que aquele garotinho saiu do Cajari granjeando vários cantos grandes pelo mundo afora. E com seu belo canto poético seduz e conquista espaços desmedidos no coração de quem encontra pelo caminho. Cantos imensos. Só seus.

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