01/08/2009

SABATINA


Acontecia, obviamente, aos sábados. Uma espécie de revisão de conteúdo semanal na Escola São José do Cajari. Os alunos em pé formando um semi-círculo, a palmatória negra de acapu na mão da professora e o medo estampado em cada rosto caboclo. A cada sábado, uma disciplina na berlinda. A mestra fazia a pergunta ao aluno ou aluna que encabeçava o semi-círculo: resposta errada, “bolo” na hora. Cada pergunta não respondida era repassada a quem estivesse na vez que, respondendo corretamente, ganhava o direito de castigar o colega que errou. Muitas vezes a questão passava por muitos sem ser respondida e quando alguém acertava, fazia uma verdadeira faxina, distribuindo bolos nos demais. Eu, que ao contrário da maioria tinha livros em casa além de ser neto de professores leigos, poucas vezes dei a mão à palmatória.

Hoje, com o coração apertado, lembro das tantas mãos jovens, frias, trêmulas e suadas que desci a palmatória sem piedade, como um verdugo. Na época sentia orgulho do feito mas agora, depois de tanto tempo, essas lembranças doem tanto ou mais em minha alma do que doeram naquelas humildes e indefesas mãos ribeirinhas.

4 comentários:

  1. Juramado

    Tuas palavras cometem fotossintese.
    Eu sementeio entre as madrugadas
    e me sinto juraciando imaginariamente.

    Poeta
    amo-te.

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  2. Mano, eu cheguei a ver essas malditas palmatórias mas, nunca dei a minha mão a elas pois rebelde como eu era, com certeza quem teria dado não a mão mas, a cabeça a palmatória seria a professora carrasca e,os coleguinhas que me punissem com força que nem tú fazias, eu preparava umas bombas Molotov e tacava neles ahahahahahahha

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  3. Dei muitos bolos também. Lendo o texto voltei ao passado, como você isso não me fez bem.

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  4. Tive uma professora que puxava os cabelos dos alunos que erravam... Puxava com os pobres sentadinhos! Eu, malandro e estudioso, comecei a passar vaselina no cabelo (início dos anos 70). No dia em que escorreguei em uma pergunta, ela escorregou a mão umas três vezes no meu cabelo. Quando puxou minha orelha, eu já tava preparado e subi antes. Contei pra minha mãe e ela foi lá que só uma onça atrás das crias... Resultado: a maluca da professora foi proibida de dar castigo físico, mas olhava pra mim cuma réiva...

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