30/10/2008

Matéria publicada em O LIBERAL em 28.10.08



Eduardo Rocha
Da Redação

Nadar contra a corrente tem sido a sina do escritor Antônio Juraci Siqueira, que este ano festeja 60 anos de idade e 30 de poesia. E para comemorar esses feitos esse trovador nascido no Arquipélago do Marajó e popularmente conhecido como o Filho do Boto vai contar seus 'causos' em um encontro literário programado para hoje, às 19 horas, na Livraria Paka-Tatu. Nese tempo todo, Juraci conseguiu tornar-se um dos maiores nomes da literatura produzida no Pará, superando a onda de analfabetismo funcional identificada por ele próprio em jovens e adultos não apenas de Belém, mas, sobretudo, no interior do Estado, por falta de ações de incentivo à leitura. Filho de canoeiro, conseguiu superar limites impostos pelas águas do descaso de grande parte dos governantes públicos dentro e fora do Brasil, que, no planejamento de ações para a Amazônia, costumam esquecer do principal capital existente na região: os seres humanos que vivem na floresta e nos rios na região. Atento a todo tipo de matéria-prima para seus versos, Antônio Juraci segue em frente, e no Encontro '60x30 A Vida Passada a Limpo - Antônio Juraci Siqueira, o militante da poesia' será mais uma vez fonte de conhecimentos por quem se interessa pela realidade e imaginário amazônicos.

O escritor dá uma dica para quem se programa para não perder a programação: 'Longa estrada percorrida/Mas chego com alegria/ Sessenta anos de vida/ Por trinta de poesia'. No dia 17, como relata Antônio Juraci, a Paka-Tatu fez programação comemrativa dos 100 anos de nascimento do escritor icoaraciense Antônio Tavernard, completados no dia 10 de outubro. 'Agora como existe essa disposição da editora em promover esses encontros literários com autores paraenses, veio a oportunidade para eu falar sobre o meu trabalho. E vai ser muito legal, porque como eu faço aniversário hoje, dia do Encontro, a gente já leva o bolo e fica tudo lá', brinca Juraci. Ele afirma que comemorar 60 anos em uma livraria tem tudo a ver para um poeta.

CORRENTEZAS

Nascido em Cajary, município de Afuá, no Marajó, Antônio Juraci desde cedo teve contato com a literatura. 'Essa minha paixão pela literatura surgiu com a literatura de cordel que o meu padastro José Oliveira levava para casa. Eu perdi o meu pai (Antônio Juraci, conhecido como Totó Siqueira) muito cedo, aos quatro anos de idade. Ele era canoeiro e o meu padastro também'. Ambos trabalharam na canoa 'Flor do Cajary', o 'caminhão' nas águas para levar a produção das famílias de trabalhadores do Marajó para Belém e retornar com víveres e alimentos em geral para a comunidade tradicional da localidade.

Um barqueiro que nunca deixa de seguir seus rumos

Juraci foi premiado pelo Governo do Estado em 1985 com o livro 'Piracema de Sonhos', que escreveu de ponta a ponta sobre temática regional. Apesar de nunca deixar de lado os aspectos da realidade regional, o poeta aborda em seus trabalhos temáticas variadas. Trabalhos como poemas, trovas, contos, crônicas, literatura de cordel, literatura infanto-juvenil (como no livro 'Paca, Tatu, Cutia não!', vencedor do Edital 2008 da Secretaria de Estado de Cultura, com ilustrações de Cláudia Vinagre e Renata Segtowick), e no humor, com 23 anos de atuação no jornal 'PQP', do comendador Raimundo Mário Sobral. Juraci segue a escrita de que nem todo poeta é trovador, mas todo trovador é um poeta, ao trabalhar com afinco a quadra de sete sílabas poéticas/fônicas. O escritor já lançou até agora mais de 80 títulos individuais.

'Há 15 anos, eu distribuo trovas em forma de coraçõezinhos para as pessoas que encontro pelo caminho. A recepção tem sido surpreendente. Um dias desses, uma casal de jovens namorados recitou em uníssono uma trova que ela tinha lido aos 12 anos de idade numa escola'. O trovador Antônio Juraci acredita que a literatura tem de ser uma atividade que transmita prazer para os cidadãos, nunca um sentido obrigatório. 'Nós temos mais de 100 bibliotecas, mas falta incentivar as pessoas a irem até essas bibliotecas, como a do Grêmio Literário Português e a que reúne o acervo da Academia Paraense de Letras'. Juraci defende que a Biblioteca Pública Arthur Vianna, no Centur, funcione nos finais de semana.

Professor de Filosofia no Ensino Médio, Juraci observa que muitos alunos lêem mas não conseguem entender o enunciado das questões em sala de aula. 'Essa relação com os livros deve vir desde cedo na vida das pessoas', defende o eterno trovador das marés.

4 comentários:

  1. Juraci
    Você ficou em primeiro lugar na II Mostra de Literatura do Servidor Público Estadual, em poesia, é claro!! E em segundo em crônica!!
    Eu consegui um terceiro em poesia e quarto em poesia visual. Será que um dia te pego, boto? ;-)
    Parabéns querido amigo. Me orgulho de ter ficado na tua sombra!

    ResponderExcluir
  2. Mas é claro que sim, amiga. O diabo é sabido porque é velho e eu já cheguei aos 60! Você está apenas começando e começando como gente grande! Na verdade fui primeiro também em crônica pois houve empate e o prêmio será conferido aos dois.Outra coisa, eu quero é luz pra todo mundo! Sombra e água fresca só pro velho boto.

    ResponderExcluir
  3. Parabens pelos trabalhos. Que a fauna da poesia continue vibrando na cidade colibri.

    Abraço

    ResponderExcluir
  4. Desculpe-me fugir do tema, mas foi a forma que encontrei de contactar com o cordelista. Na página de ORKUT do cordelista potiguar Izaías tem uma foto dele com Juraci Siqueira. Sou um colecionador de folhetos de cordel, no entanto, não tenho nenhuma "verso de feira" de autor amazônico. Espero contato.
    E-mail: calberto6565@hotmail.com
    Carlos.

    ResponderExcluir