04/06/2008

Kararaô !

Em cada curva de rio,

em cada palmo de chão

da Amazônia existe um olho

observando o Dragão

com seu hálito de fogo,

seu discurso demagogo,

seu poder de sedução...

E em cada rosto caboclo

existe um índio escondido,

enclausurado em si mesmo,

discriminado, oprimido,

escravo em sua própria terra

trazendo o grito de guerra

no coração reprimido.

Eu sou a voz desse índio :

a flecha, a lança, a borduna...

Sou peixe na piracema,

limo de várzea, boiúna,

tronco no rio submerso

e, se me desfaço em verso,

sou arma, pão e tribuna!

Meu cantar é berço e tumba,

é pedra, rosa e punhal;

é chuva regando a terra,

é fogo no matagal :

alerta, instiga, provoca

com fúria de pororoca,

força de vento geral!

Mas não desperte essa fera

no meu peito adormecida,

concebida e alimentada

na dor da própria ferida.

Seu corpo de argila e trigo

serve e alimento e abrigo

aos que lutam pela vida.

Canto as glórias do meu povo

e as dores desta nação.

Meu canto é grito de guerra,

punhal contra a servidão :

- Kararaô ! Canto alado,

pendão de amor desfraldado

em defesa do meu chão!

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