NÓS, OS FILHOS DO BOTO
Após
ter aparecido no quadro “Me leva, Brasil!” do “Fantástico da rede Globo de
Televisão, afirmando ao repórter Maurício Kubrusly ser “filho de boto”, muita
gente procurou-me para saber da veracidade ou não do fato.
Pois
bem: a verdade é que ninguém sacou que a minha “mãe” é a Amazônia e o “boto” em
questão é o Capitalismo, esse moço bonito que nos seduz, nos enraba e depois
nos abandona prenhes de dívidas e dúvidas. É o mesmo boto que em tempos idos,
travestido de regatão, comia nossas tapuias em troca de um corte de chita ou de
um vidro de perfume. E a “minha mãe”, a exemplo da “Mama África” do Poeta, também
é mãe solteira, também foi e continua sendo estuprada e empre- nhada por esse
boto malino, tanto física quanto cultural e economicamente. Ontem, na base do
“dá ou desce”, a ferro e fogo; hoje, na mesma base, só que com armas muito mais
sofisticadas, sedutoras e eficientes...
Quando
disse ao repórter que minha mãe não “pulou a cerca”, porque não havia cerca,
quis dizer simplesmente que a Amazônia continua escancarada e indefesa à cobiça
internacio- nal. Tem muito “olho de boto” em cima da gente, das nossas
riquezas, da nossa biodiversidade. É “olho de boto no fundo dos olhos de toda
paisagem...”
Antonio Juraci Siqueira
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