DE COMO O
AÇAÍ DEIXOU DE SER VENENO
Das muitas histórias do arco da
velha que ouvi quando criança, no Marajó, gosto desta, contada pelo tio Tavino,
que explica por que o açaí não faz mal a ninguém. Nem mesmo quando tomado
azedo, de um dia pro outro, sem nenhum processo de conservação.
Tio Tavino afirmava, do alto de sua
sabedoria cabocla, que o açaí não era veneno “por um grau” e explicava:
–
No tempo em que Nosso
Senhor Jesus Cristo andava pelo mundo, passando um dia, em
companhia de São Pedro, por baixo de um açaizeiro, encontrou vários caroços
espalhados pelo chão. Curioso, apanhou um caroço e roeu. Em seguida, cativado
pelo sabor peculiar do fruto, resolveu abençoá-lo para que todos pudessem
desfrutar de suas nutritivas qualidades. E foi assim, segundo o tio Tavino, que
a partir daquele momento o açaí velho de guerra deixou de ser veneno.
Em minha infância de menino do
interior, eu acreditava em tudo o que os mais velhos contavam sem contestação.
Nunca quis saber o tipo de “grau” que liberava o açaí para o consumo e
ficava imaginando Nosso
Senhor Jesus Cristo, com sua longa túnica branca e pés
descalços, andando pelas matas do Cajari sempre acompanhado do seu amigo
Pedro. E era como se estivesse vendo o momento da bênção: O Divino Mestre agachado
e proferindo as santas palavras com os lábios roxos de açaí...
E que assim seja para sempre. Amém!
Histórias à beira-rio – Antonio Juraci
Siqueira
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