7 de Setembro de 1999. A exemplo de anos anteriores eu
participava da “Marcha dos Excluídos”, ato público a nível nacional organizado
por setores da Igreja, partidos de esquerda e segmentos da sociedade organizada
para denunciar os crônicos problemas do Brasil, de Cabral aos dias atuais.
Como de costume eu distribuía corações de papel contendo
trovas contextuais, entre os manifestantes e o público em geral, como as que
seguem:
Acobertando bandidos,
vai a Justiça, em verdade,
aumentando a impunidade
e a procissão de excluídos!
***
Existe, em nossa República,
gente mal-intencionada
fazendo na vida pública
o mesmo que na privada!
***
Brasil, país onde abunda
a impunidade e seus traumas:
o povo toma na bunda
e o governo bate palmas!
Entramos no rabo do último pelotão do exército que
participava da “parada militar” e seguimos pela avenida Serzedelo Correa rumo à
Presidente Vargas, onde a polícia militar já estava postada com “ordens
superiores” de não deixar passar ninguém. Os organizadores do ato ainda tentaram
dialogar com os “donos da rua” sem sucesso.
A partir daí, já com os ânimos exaltados, os manifestantes
forçaram a barra gritando palavras de ordem contra a repressão mas foram
recebidos pelos milicos com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Instalou-se
o caos: gritos, correria, tosses e sufocamentos provocados pelo gás de efeito
(i)moral. Muita gente ferida, inclusive este valente escriba, atingido por
estilhaços de bombas nos braços e barriga.
Tentando proteger minha estimada carcaça, entrincherei-me
detrás de um carro esperando a refrega passar, enquanto o locutor do carro-som
dos manifestantes pedia calma de ambas as partes. No espaço vazio que se formou
entre os manifestantes e a polícia, uma grande faixa de pano jazia sobre o
asfalto, abandonada por seus condutores, onde se lia, ironicamente, em letras
garrafais:
“BRASIL, VERÁS QUE UM FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA!”
( Do livro “Acontecências – crônicas da vida simples” )